Introdução
As Artes assumem sempre um papel de vanguarda nos movimentos sociais na promoção da qualificação do indivíduo no seio da comunidade, sendo um contributo para a manifestação e afirmação da “coisa pública”, por via da exaltação do espírito.
A intervenção no espaço da comunidade por via da capacitação das competências individuais dos seus cidadãos, visando um acto colectivo com a exposição pública do seu trabalho, é dos actos mais frutuosos na valorização do sentido da responsabilidade social promovendo a auto-estima individual e colectiva e sua afirmação ao olhar do espaço externo.
A ocupação da “Ágora” – Praça – como espaço público, espaço comunitário para o exercício da cidadania num manifesto e vigoroso acto de “vox populi” por via da Arte é dar cumprimento à exposição do prazer, da identificação individual e colectiva, identidade de território/bairro, diluindo as diferenças étnicas e sociais na valorização da auto-estima de grupo.
A utilização de Gigantones e de outros Objectos/Esculturas neste projecto, pretende capitalizar esta forma artística, cuja história se perde nos tempos, mas que passa necessariamente pelo nosso País: Portugal é considerado o País onde terão aparecido os gigantes de carácter processional, no ano de 1265 numa procissão em Alenquer.
Os gigantes e cabeçudos são uma das formas artísticas integrantes no vasto mundo da Arte da Marioneta. A sua figura desmesurada amplificando e/ ou exagerando os traços fisionómicos e de personalidade cumprem uma função catártica na mesma linha do teatro popular de marionetas. Ao ampliar realça-se o defeito e a virtude em homenagem ou crítica desta ou daquela figura pública, histórica ou simbólica. Exorcisam-se os medos populares com as figuras do fantástico que povoam o imaginário colectivo: Serpe, Coca, Drago, Diabo, etc.
Em suma, esta intervenção artística nas comunidades/bairros visa valorizar o exercício da cidadania, numa prática do cidadão como actor principal da cidadania, beneficiário activo da cooperação responsável com as instituições, na junção das competências e das valências logísticas destas, visando o exercício activo das sinergias instituições-indivíduos.
SINOPSE
O evento/espectáculo “S.JORGE E O DRAGÃO” convoca a participação da comunidade da “polis” como actores fulcrais, em colaboração com profissionais para a realização da Festa.
O evento/espectáculo toma como espaço o território da “polis” – Ruas e Praças, onde a Parada emerge e se desenvolve, num acto de Festa e de fruição colectiva.
O evento/espectáculo tem como base a estrutura textual da lenda de “S.Jorge e o Dragão” na dicotomia do Bem e do Mal, paradigma dos contrários, das diferenças, resultando no final não da morte do Dragão, mas sim no Nascimento de um Ser novo – A Esperança.
Este projecto vai ocupar 03 Praças – 02 locais de partida em Parada para os exércitos antagónicos e 01 local para o Combate.
Os 02 grupos de trabalho/exércitos saem ao mesmo tempo de dois locais/Praças distantes um do outro, iniciando um percurso que favoreça a visibilidade da acção em Parada.
Com a bateria de Bombos, Fanfarra/Banda como suporte sonoro a população em cortejo acompanha as duas personagens – S. Jorge e Dragão até à Praça Final – Palco Central do acontecimento, onde decorrerá o Combate.
Os exércitos trazem nas cabeças, Objectos/Esculturas – Gigantone-Capacete -, nas mãos, bandeiras, flâmulas, símbolos identificadores de cada exército pela forma e pela cor.
De um lado, Exército de S. Jorge – Figuras Humanas -, do outro lado Exército do Dragão – Figuras Fantásticas – com diferenciadas manchas cromáticas e sonoridades distintas – Bombos, Orquestra de Tubos, Canto, etc. – farão o seu combate simbólico apelando, convocando, enfim, seduzindo o público, de modo a gerar facções até ao duelo final, acompanhado por ambiências sonoras, do qual resulta o nascimento de uma figura representando a Esperança.
Esta figura feminina, de branco esplendoroso, paradigma da Beleza, será representada por uma Marioneta Gigante manipulada no ar por vários manipuladores.
No quadro final, enquanto a Esperança é manipulada, num exercício de exaltação do Belo, pretende-se que surjam várias crianças com cavalos de pau e dragões brinquedos, convocados para a Parada de S.Jorge e o Dragão, mas que afinal é a concentração destes mitos, para a consagração da nova figura – Esperança.
Fotografias de Paulo Martins